33
O Sal trágico de uma trajetória
por Raphaela Spencer
Em 33, Kiko Goifman imprime um modo peculiar de conduzir uma narrativa centrada no cabalismo de uma idade.
Um homem de 33 anos, filho adotivo de Berta Cudischevitch Goifman, nascida em 1933, têm 33 dias para encontrar sua mãe biológica. No caminho muitas reviravoltas e encontros esfumaçados com parteiras, cartomantes, porteiros, médicos e detetives. Essa parece uma bela sinopse daqueles filmes soturnos do Cinema Noir, onde um mocinho, de personalidade questionável, luta contra vilões sarcásticos e cruéis, sempre acompanhado por uma misteriosa mulher que permeia todo o filme.
Toda a estética e construção narrativa de uma ficção, empregadas de forma decisiva, na construção da procura real do diretor Kiko Goifman (autor e personagem) por sua mãe biológica. Totalmente bem resolvido em sua relação com o fato de ser adotado, o diretor achou que expondo a própria história, poderia quebrar o tabu, que ainda cerca os debates sobre esse assunto, principalmente quando envolve membros de famílias onde a adoção está presente.
Quando completou 33 anos, Goifman estava preparado pra começar essa busca. Mas não queria que ela durasse uma eternidade e por isso estabelece um prazo de 33 dias. É a presença desse deadline que torna a narrativa ainda mais ficcional. A apreensão que cerca a espera do desenlace é ambientada por uma fotografia toda em preto e branco com alto contraste e trilha sonora que tem o dinamismo da música eletrônica do grupo Tetine.
Na primeira etapa da investigação detetives do centro de São Paulo são entrevistados. Nessa fase, o diretor realiza uma espécie de capacitação sobre como executar sua própria busca. Depois viaja para Belo Horizonte, onde entrevista as pessoas que estiveram envolvidas no caso: sua mãe adotiva, sua irmã, sua babá e o médico que intermediou a adoção. No decorrer da história, ele ainda revira os arquivos da Santa Casa e conversa com antigos moradores do prédio em que passou dois dias antes de ser adotado.
Durante toda a gravação privacidade e autopreservação ficaram fora do vocabulário do diretor. Além de enfrentar as reviravoltas de seu próprio passado, ele ainda criou um diário virtual, onde postou durante toda a gravação do documentário. Esse espaço foi visitado por diversos internautas que se sentiram livres para analisar a iniciativa e opinar (nem sempre a favor) sobre o que achavam da busca. Essa oportunidade única, de participar de um documentário como espectador de sua construção, levaram alguns desses internautas a se tornarem entrevistados dentro do próprio filme. Goifman transformou essas opiniões em falas dentro de sua própria obra.
Há 10 anos Kiko Goifman trabalha em seus filmes temáticas relacionadas à violência. Segundo ele mesmo, essa busca sem disfarces é, na verdade, a promoção da violência contra si próprio. Expondo suas inseguranças e ansiedades, 33 acaba tocando a todos que assistem essa primorosa obra documental baseada em fatos de uma realidade tão bem arquitetada que mais parece uma grande ficção. (por Raphaela Spencer)
Ficha Técnica
33 - (Brasil, 75min, documentário, 35mm, p&b, 2003)
Direção: Kiko Goifman
Roteiro: Kiko Goifman e Cláudia Priscilla
Música: Tetine
Produção: Jurandir Muller
Página da Web: www.33ofilme.com.br
Sinopse: Documentário com atmosfera noir. 33 anos é a idade do diretor. 33 é o tempo limite para encontrar sua mãe biológica. Um road movie entre fumaça, parteiras, cartomantes, porteiros, médicos e detetives.
Filmografia do Diretor:
2004 - Morte Densa
2004 - Território Vermelho (curtametragem)
2004 - 33
2000 - Olhos Pasmados
1994 - Clones, Bárbaros, Replicantes
1992 - Tereza
por Raphaela Spencer
Em 33, Kiko Goifman imprime um modo peculiar de conduzir uma narrativa centrada no cabalismo de uma idade.
Um homem de 33 anos, filho adotivo de Berta Cudischevitch Goifman, nascida em 1933, têm 33 dias para encontrar sua mãe biológica. No caminho muitas reviravoltas e encontros esfumaçados com parteiras, cartomantes, porteiros, médicos e detetives. Essa parece uma bela sinopse daqueles filmes soturnos do Cinema Noir, onde um mocinho, de personalidade questionável, luta contra vilões sarcásticos e cruéis, sempre acompanhado por uma misteriosa mulher que permeia todo o filme.
Toda a estética e construção narrativa de uma ficção, empregadas de forma decisiva, na construção da procura real do diretor Kiko Goifman (autor e personagem) por sua mãe biológica. Totalmente bem resolvido em sua relação com o fato de ser adotado, o diretor achou que expondo a própria história, poderia quebrar o tabu, que ainda cerca os debates sobre esse assunto, principalmente quando envolve membros de famílias onde a adoção está presente.
Quando completou 33 anos, Goifman estava preparado pra começar essa busca. Mas não queria que ela durasse uma eternidade e por isso estabelece um prazo de 33 dias. É a presença desse deadline que torna a narrativa ainda mais ficcional. A apreensão que cerca a espera do desenlace é ambientada por uma fotografia toda em preto e branco com alto contraste e trilha sonora que tem o dinamismo da música eletrônica do grupo Tetine.
Na primeira etapa da investigação detetives do centro de São Paulo são entrevistados. Nessa fase, o diretor realiza uma espécie de capacitação sobre como executar sua própria busca. Depois viaja para Belo Horizonte, onde entrevista as pessoas que estiveram envolvidas no caso: sua mãe adotiva, sua irmã, sua babá e o médico que intermediou a adoção. No decorrer da história, ele ainda revira os arquivos da Santa Casa e conversa com antigos moradores do prédio em que passou dois dias antes de ser adotado.
Durante toda a gravação privacidade e autopreservação ficaram fora do vocabulário do diretor. Além de enfrentar as reviravoltas de seu próprio passado, ele ainda criou um diário virtual, onde postou durante toda a gravação do documentário. Esse espaço foi visitado por diversos internautas que se sentiram livres para analisar a iniciativa e opinar (nem sempre a favor) sobre o que achavam da busca. Essa oportunidade única, de participar de um documentário como espectador de sua construção, levaram alguns desses internautas a se tornarem entrevistados dentro do próprio filme. Goifman transformou essas opiniões em falas dentro de sua própria obra.
Há 10 anos Kiko Goifman trabalha em seus filmes temáticas relacionadas à violência. Segundo ele mesmo, essa busca sem disfarces é, na verdade, a promoção da violência contra si próprio. Expondo suas inseguranças e ansiedades, 33 acaba tocando a todos que assistem essa primorosa obra documental baseada em fatos de uma realidade tão bem arquitetada que mais parece uma grande ficção. (por Raphaela Spencer)
Ficha Técnica
33 - (Brasil, 75min, documentário, 35mm, p&b, 2003)
Direção: Kiko Goifman
Roteiro: Kiko Goifman e Cláudia Priscilla
Música: Tetine
Produção: Jurandir Muller
Página da Web: www.33ofilme.com.br
Sinopse: Documentário com atmosfera noir. 33 anos é a idade do diretor. 33 é o tempo limite para encontrar sua mãe biológica. Um road movie entre fumaça, parteiras, cartomantes, porteiros, médicos e detetives.
Filmografia do Diretor:
2004 - Morte Densa
2004 - Território Vermelho (curtametragem)
2004 - 33
2000 - Olhos Pasmados
1994 - Clones, Bárbaros, Replicantes
1992 - Tereza
3 comentários:
co filme deve ser interessantissimo, porém não poderei ver, por que cinema em pela quarta não há possibilidade, mas gostaria muito de ver estefilme.. abraço
ouvi dizer q o debate com a professora simone juber rendeu bastante. e o filme?
oi, povo. não sei se vocês sabem, mas na UPE de Nazaré da Mata tá rolando o Cineclube AZouganda. estamos querendo esse contato com vocês. vamos marcar uma conversa?
o nosso blog é http://azouganda.zip.net
o nosso e-mail é cineclubeazouganda@yahoo.com.br
artur rogério, Coordenação do AZ.
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